Causos da MPB - Piano no Samba



Benito di Paula apareceu no mundo do samba de forma meteórica e inovadora. Arrasou com "Mulher Brasileira" e com o uso do piano em um ritmo em que este instrumento não ameaçava ser usado nem na cabeça do mais mestre dos maestros. Pois bem, Benito assim fez.

Aí virou aquela febre. Até Tom Jobim, maestro-mor da MPB, resolveu, ao lado de Chico Buarque, fazer samba com piano. E o negócio deu certo e fez sucesso: "Piano na Mangueira", "Estação Derradeira", "Corrente" e "Chão de Esmeraldas" foram algumas que emplacaram nas rádios do país afora.

E se o samba já era um produto genuíno tupiniquim e, agora, podia-se usar um instrumento efetivamente europeu, a galera do Velho Mundo pirou. Fez aquele tanto de festival e os convidados mais esperados eram os brasileiros com as suas inovações, em sua maior parte devido ao Benito di Paula.

Porém, no Brasil, o que é moderno não é eterno, e a turma da velha guarda não ficou muito afim dessa nova forma de fazer samba. Na verdade, esculhambou geral. Pois foram, inclusive, ataques pessoais a Benito acusando-o de cheirar cocaína e virar a noite bebendo uísque, o que acarretou na desgraça da vida pessoal do pianista.

Mas, com a classe que todo príncipe tem, Paulinho da Viola, um excelente sambista que era contrário às invencionices e pessoa da maior sumpipitude, alfinetou todos, tanto Benito quanto aqueles que queriam permanecer retrógrados, e fez um samba magistral - Argumento.




ARGUMENTO

Tá legal!
Tá legal, eu aceito o argumento
Mas não me altere o samba tanto assim
Olha que a rapaziada está sentindo a falta
De um cavaco, de um pandeiro ou de um tamborim

Sem preconceito ou mania de passado
Sem querer ficar do lado de quem não quer navegar

Faça como um velho marinheiro
Que durante o nevoeiro
Leva o barco devagar




Danilo Meiras

Nenhum comentário: