Falta apenas 15 minutos para o fim. Nestes derradeiros instantes olhava a cidade de dentro do metrô, ela passava incógnita. A velocidade parecia diminuir a medida que a cidade acelerava seu processo de colapso. Reparei nas pessoas a minha volta e não vi desespero, estavam todas alheias ao mundo que entrava em convulsão naquele instante.
Passageiros liam a sua dose diária de jornal, o resumo da novela das oito, enquanto isso a atmosfera plúmbea resolvia descarregar sua fúria, pluvial e elétrica, sobre a cidade. Alguns passageiros dormiam um sono perturbado e povoado de pesadelos cotidianos. Muitos estavam ali extenuados devido à exacerbada exploração de sua mais-valia e muitos simplesmente observavam o cataclismo que se desenhava perante seus olhos, apenas imaginando que era, mas uma chuva torrencial que assolava a capital das alterosas. Era um típico mês de dezembro e talvez por isso as pessoas não se espantassem com o fenômeno atmosférico que se desenrolava, afinal era verão, tempo quente e úmido a chuva era considerada normal. Apenas mais uma pancada de final de tarde, isolada.
O metrô havia parado e nem mesmo eu percebera, pois estava perplexo diante da eminência do fim. O que mais impressionava era que somente eu parecia estar enxergando os fatos, a massa estava completamente alheia, dopada pela farsa da vida cotidiana. Resolvi descer na estação seguinte e participar dos eventos derradeiros de nossa “tradicional” sociedade belorizontina e alem do mais precisava de informação sobre como andava o resto do mundo.
A chuva cessara, mas os raios não. Parecia que os deuses travavam sua última luta de raios com algum titã maldito da sociedade moderna. Sob as descargas atmosféricas caminhei pela Praça da Estação, estava em busca de informação sobre esses eventos que pareciam preceder o fim dos tempos. Entrei numa daquelas velhas galerias da praça e fui direto a um Cebo, afinal não podia confiar nos meios de comunicação de massa. Lá dentro percebi que a chuva novamente precipitava-se, só que agora com toda sua fúria de dilúvio sobre a cidade. Foi neste instante que escutei um estrondo seguido de um forte abalo sísmico.
- Faltam 15 minutos para o fim. Disse uma voz cortante.
Era o livreiro, esse homem compartilhava comigo o conhecimento dos fatos que se desenrolavam. Perguntei a ele qual era o motivo do forte estrondo sonoro, e ele disse:
- É o cadáver que jaz sob a Andradas.
- Como assim homem de deus? Quem está enterrado na Andradas? Perguntei aflito.
- O rio, o velho Arrudas, companheiro. Vai ressurgir e engolir a cidade durante sua dramática vingança.
Ele estava certo na suas revelações, ali logo abaixo de nossos pés jazia um rio prestes a ressurgir através da tempestade do juízo. Pelo dilúvio da renovação antiga BH estava prestes a se transformar.
Continua..........
Rafael Bueno - Contando as Geografias do tempo.....
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