Nasceu em algum lugar da década de 80 num sertão
desses de seca e de fome, não foi batizado e nem mesmo registrado,
o pobre era pagão e não existia perante a formal cidadania.
Cresceu assim sem promessa de céu e muito menos de terra, dava duro como semi-escravo de um semi-analfabeto, que possuía uma terrinha ressecada que só dava palma.Comeu palma junto com gado regada a lama do açude quase sempre seco. Andava empoeirado, vermelho homem de barro cara dura, cerâmica seca e curada.
Um dia cansado da companhia bovina, da mansidão “vaquina”, parou de ruminar palma e caiu na estrada. Andou uma legião de dias varou o sertão até chegar no sul maravilha, não veio de pau de arara veio a pé sem nada.
Não conhecia as promessas de fartura de uma tal cultura dita capitalizada, mas fazia parte do sistema da economia mercantilizada. Assustou-se com o mundarel de gente, atônito sentiu saudade da secura da vida dura, conheceu finalmente a mãe dele a pátria desigual concreto e neon...caatinga e deserto, escutou um pensador “pátria que me pariu” é quem foi se riu.
De semi-escravo liberto, passou a não ser nada na floresta de concreto, adquiriu poderes se surpreendentes invisibilidade dos indigentes, comia restos e não mais palmas, fuma pedra e bebia pinga. Sonhava um sonho ruim e acordava como parte da realidade pior.
Roubou, para fumar...no garimpo doido da pedra, modificou-se de homem de barro a semihomem de lama, excretar em cada esquina da metrópole altiva.
Nunca foi ninguém e no final nunca existiu....
Foi mais um mecanismo da dura luta do canil....
Morreu como nasceu pagão e não-cidadão....
sem promessa de céu ou de terra......
Rafael Bueno
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Contantando as injustas geografias da vida
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