Entrevista com Miro Jones




Com o seu jeito irônico e sincero de ser, Miro Jones fala sobre a infância, futebol, cachorro, música e carreira com o Caboclo Voador.









"O rock ficou triste e intelectual. Isso não faz bem.Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Essa onda de camisa xadrez e barba está acabando com o rock. É a loshermanização da música. Los Hermanos são ótimos. Mas eles são eles e os outros são os outros. Não é necessário ter que ser igual ao estilo deles."






B.D.T: Miro, tudo bem?

Miro Jones: Suave.

B.D.T: De onde surgiu esse nome "Jones"?

Miro Jones: Pois. Então. Isso nasceu nem eu sei como. Só lembro que um dia eu me flagrei cadastrando um e-mail com esse nome.
Achei bem rock and roll e ficou.

B.D.T: E sua história com o rock? Quando começa?

Miro Jones: Começou quando eu tinha 8 anos. Em meados de 1992. Naquela altura meu irmão escutava a onda de Seatle e Guns and Roses e peguei por osmose.

B.D.T: Boas influências a que seu irmão lhe submeteu, não?

Miro Jones: Sem dúvidas. Mas ainda acho o som do Evaldo Braga que tocava no Opala do meu vizinho mais importante. A voz do Evaldo foi mais marcante que os solos do Slash.

B.D.T: Como foi sua infância?

Miro Jones: Eu era asmático. Corria 10 metros e parava 20 minutos. Mas eu era feliz. Fiz 8 testes no Cruzeiro e não passei. Jogava bola na rua, brincava na areia e no pó de pedra e pulava o muro do vizinho pra nadar na piscina dele (nadar foi uma mentira, só molhava a cabeça).

B.D.T: Por que?

Miro Jones: Medo de água.

B.D.T: Você se considera um cruzeirense fanático?

Miro Jones: Já fui mais. Amo o Cruzeiro. Mas ultimamente tenho medo de o BMG comprar o clube.


B.D.T: Você passou alguns anos na Universidade, como foi isso?

Miro Jones: Foi lindo. Uma experiência e tanto. Estudei Geografia e descobri que ela é o amor. Fiz muitos amigos lá em Belo Horizonte e em várias cidades do Brasil (adorava os encontros de estudantes) que ainda estão aí, nos falamos bastante através da tecnologia Facebook. Mas acho que melhor que estar na Universidade, é sair dela. O problema é que ela não sai da gente.

B.D.T: E você é casado, namora, como é?

Miro Jones: Tenho duas mulheres. A Bia e a Vera. Meu baixo e meu violão, respectivamente.

B.D.T: Por que coloca nome de mulher no instrumento?

Miro Jones: Um instrumento musical é quase uma mulher: as curvas, a beleza, a sensibilidade, a doçura, etc.



B.D.T: Como você começou a atuar musicalmente?

Miro Jones: Depois do oitavo teste no Cruzeiro eu passei a aprender violão. Queria impressionar as meninas da escola. Eu tinha um colega de classe que tocava violão e as meninas adoravam ele. Quando eu aprendi o solo de “pra ser sincero” dos Engenheiros do Hawaii me senti o Jimi Hendrix. Naquele momento eu já me sentia pronto para levar o violão para escola. Desde então eu não parei. Comprei um baixo barato (não sabia nem violão) e comecei a tocar com os amigos da escola.

B.D.T: O que vocês tocavam?

Miro Jones: Nada. Não saía uma nota afinada. Tempos difíceis...

B.D.T: Mas conseguiu alguma garota?

Miro Jones: Consegui. Não muitas. Nem era o meu interesse. Só queria iniciar nos prazeres da vida.

B.D.T: Como foi o desenvolvimento da carreira musical?

Miro Jones: Tive bandas covers. Uma que no mesmo repertório tinha Sepultura e Creedence, outra que tocava rock dos anos 80, outra que só tocava rock dos anos 70, depois veio a Porfíria e o Circo Imaginário e agora o Caboclo Voador.

B.D.T: A grande mídia em geral e vocês próprios, do Caboclo Voador, tem dificuldades de rotular o som da banda. Como é isso?

Miro Jones: É porque a gente não quer rotular. Simples assim. Tenho medo da Restartização da sociedade, da MTVzaçao dos nossos jovens e da burocratização da música. Esse negócio de ter que ser assim assado não está com nada. Nós no Caboclo Voador temos toda a liberdade de compor, sem se preocupar com o tamanho da música, com o tamanho do solo, com o peso da guitarra e da bateria. Fazemos músicas como elas devem ser.

B.D.T: Como é tocar com o Zuzu e com o Dengue?

Miro Jones: É ótimo. Eles são bons músicos e escutam de tudo. Se eu disser “vamos fazer algo meio Odair José com Genesis” eles vão entender. Isso mostra a riqueza musical deles. Escutam de tudo e tiram proveito de tudo.

B.D.T: Você acha que o rock está meio careta?

Miro Jones: Sem dúvidas. O rock ficou triste e intelectual. Isso não faz bem.Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Essa onda de camisa xadrez e barba está acabando com o rock. É a loshermanização da música. Los Hermanos são ótimos. Mas eles são eles e os outros são os outros. Não é necessário ter que ser igual ao estilo deles. Ando cansado de ver cantores imitando o jeito do Amarante de cantar. O rock anda pouco original.

B.D.T: O rock não é original porque as pessoas não são?

Miro Jones: Claro. Faz tudo parte de um sistema. Sistema de marketing, sobretudo. Penso que quem trabalha com marketing e publicidade corre o sério risco de tornar-se criminoso por fazer as pessoas se transformarem em marionetes, com gostos e modos de ser industriais. A sambalização da sociedade brasileira e também a bossanovalização contribuem para isso. O Brasil foi e é uma fábrica de bons roqueiros, mas não querem esquecer de Tom Jobim, Toquinho e Chico “cantando coisas de amor”.

B.D.T: Você aparece pouco no rádio e na TV, por que?

Miro Jones: Não uso moicano no cabelo, calças coloridas, não tenho voz aguda nem digo que amo os fãs em todo show. Ou seja, não sou o produto simpático que sorri na revista. Então acho que por isso a grande mídia me evita. Mas existem coisas maiores por aí. É gozado. Tudo que eu queria quando comecei a tocar era ser entrevistado pelo Jô, hoje tudo que quero é tentar levar todos os meus amigos nos shows do Caboclo Voador. A segunda tem sido mais difícil.

B.D.T: Sério? Por que?

Miro Jones: É a tal da vida corrida. Faz parte. Mas tenho conversado muito com o meu cachorro, acho que toda gente deveria ter um.

BDT: Como você se distrai?

Miro Jones: Bebo suco de mamão, leio Hobsbawn, Bauman e jogo Combate Arms.

3 comentários:

B. Trapos disse...

ou quando é proximo show....bacana a entrevista...

MariangelaEvaristo disse...

Boaaaaaa,
Adorei Querido.

Everton Sena disse...

Faltou a pergunta: O Vertim te arrebentava sempre?
hehe...