UMA HORA PARA O FIM DO MUNDO


Uma hora! É o tempo que me falta pra destruir o mundo. Estou com dez bombas atômicas espalhadas pela Terra esperando apenas o comando da explosão. Este botão vermelho me olha com desdém... Mas não o apertarei agora. Preciso esperar que todos saibam o quanto a bolsa de valores oscilará neste dia cinza. Quanto valerá o dólar, o euro, o petróleo, o ouro. Estou me matando de rir agora! Tantas famílias achando que vão estacar suas clãs sumirão do mapa em exatos cinquenta e oito minutos...

Faltam cinquenta minutos. Estou bebendo minha dose de uísque e pensando nela, naquela desgraçada que afundou minha vida. Pilantra! Harpia! Malandra! Será que ela achou que sou idiota? Pois a resposta é não, minha cara. Serei como este seu novo amiguinho: um morto carbonizado! E a culpa será dela, terráqueos. Meu sofrimento valerá minha morte, ou melhor, nossa morte.

Agora restam quarenta minutos. Estou ficando cada vez mais embriagado porque bebo cada vez mais rápido este litro de um legítimo uísque escocês. Ah, a Escócia... Que país lindo! Um país gelado mas de almas quentes. Pátria que pariu a puta que me esnobou e me fez arquitetar este armagedon. Não é à tôa que uma de minhas ogivas estão situadas por lá. As outras estão na Argentina, Suriname, Canadá, África do Sul, Egito, Alemanha, Rússia, Austrália e Mongólia. Falta pouco, mas parece uma eternidade.

Meia hora pra explosão fatal! Não verei mais meu time jogar. Não teremos mais Copa do Mundo. Pelo menos não teremos mais corrupção no meio do esporte. Nem da saúde. Nem do turismo. Nem da educação. Educação que é a base para que todo ser humano possa tratar e ser tratado como ser humano. As pessoas precisam respeitar os mais velhos e parar de pensar somente nelas e no que o dinheiro as possa oferecer. Dinheiro não é tudo. Amor é, mas aquela mulher me trocou pelo dinheiro de outro. Safada!

Faltam vinte minutos para que tudo se acabe. Terei de abrir outra garrafa. Teria que ter alguém comigo. Nem que seja pra dizer que não sou louco, nem assassino, nem monstro, nem corno! Que força tem a paixão... Mas a destruirei com gosto. Não desejo mal às outras pessoas, eu poderia matar somente ela. Minha vingança estaria completa? Não! Preciso acabar com todos que sabem e zoam de meu sentimento. Não daria pra fazer isso eliminando um a um. Não tem jeito, resto do mundo, vocês irão conosco. Vocês pagarão pelo que não fizeram.

Dez minutos! Aposto que tem gente começando a namorar agora. Aposto que tem criança nascendo agora. Aposto que já tem gente morrendo agora. A morte, tão forte, mata o rato, o gato e o homem. Descerá à Terra com a sua mais bela roupa, um vestido de cetim? Estará sorrindo? Ou sorrirá apenas para mim? Que angústia desesperada... Minha fé cansou. Meu mundo caiu. Minhas vistas se embaralharam e meu copo de uísque secou outra vez. Logo agora que só restam oito minutos! Vou ao banheiro.

Contagem regressiva: cinco minutos. Por que fui ao banheiro se não terá ninguém mais aqui para ver que mijei no chão? Eu sou um idiota mesmo. Aquela piranha tem razão. Aquele cara tem razão. Aquela gente tem razão. Agora restam quatro minutos e navego na internet. Estou num site de busca e procuro uma imagem de Terra. Quantas fotinhas sem graça! Daqui a pouco teremos fumaças e mais fumaças ao redor deste planeta. Três minutos, e agora penso em meu pai, meu bom pai, que me ensinou a amar o próximo como se fosse a mim mesmo. Eu me amo? Não mais. Mas o que o próximo tem a ver com isso? O próximo pode ser meu pai... Faltam dois minutos e estou muito embriagado. Minhas pálpebras pesam e será uma honra morrer dormindo. Antes, deixem-me pegar mais uma pedra de gelo. Como só faltam sessenta segundos, vou fechar os olhos e contar regressivamente até o aperto do botão. Tomei um pilequinho e quis mandar tudo pro ar... Trinta e sete, trinta e seis, trinta e cinco, trinta e seis, trinta e sete... acho que me confundi... acho que vou adormecer... acho que vou morrer... acho que não aguentarei apertar o botão do fim do mundo... acho que sou mesmo um idiota!




Danilo Meiras

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