
E lá estava ele sentado, perdido, afogado num copo de conhaque, num canto escuro do bar dos bêbados. Ao mesmo tempo em que respirava, ele pensava no dia que findaria em uma hora.
Em sua volta, ébrios que fofocavam e soçobravam em mais uma noite regada a álcool. O mais alcoolizado era um jovem louro com uma cicatriz no queixo. Este também era o mais rico, pois carregava no bolso rasgado uma nota de R$10,00 que valia para cinco copos de cachaça. O louro foi conversar com ele:
- Fala aí, amigo! Pensas no fim do mundo?
- Não, penso no fim do dia.
O jovem louro só sorria e mostrava aqueles dentes amarelos, além de dar uma golada que esquentava a goela e o corpo.
- Perdeste a mulher?
- Não, ela está a me esperar.
Nisto, o louro riu mais alto.
- Então não demora, pode chegar tarde em casa e não achar mais ninguém por lá. Ou pior: encontrar a sirigaita com outro!
E saiu rindo e cambaleando.
Após algum tempo, volta o louro com uma feição mais sombria:
- É triste... Minha vida é triste...
- Quer mais um gole da branquinha? Eu pago.
- Tu és um cara bom. Eu sou um bêbado chato. Mas eu consigo enxergar a beleza das pessoas. Tu tens um coração enorme, tão grande que não te suportas rondar pelos bares sem que sejas agraciado. Tu clamas por toda a atenção do planeta no dia de hoje, porém, não percebes que és um cidadão comum. Eu sinto o teu momento de infelicidade, e percebo o quanto isto angustia a ti.
Ele, comovido, não sabia o que dizer.
- Desculpe, mas é meu aniversário...
- Não seja por isso, amigo: felicidades pra ti!
Ele olha o relógio:
- Já passou um minuto do meu dia. Acho que agora posso ser feliz.
Danilo Meiras
Um comentário:
Os minutos do dia 27/11 são seus, todos.
Parabéns, Toni Meiras.
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