Sobrevoando a eternidade


Barraco!? Tão característico quanto aos casebres das favelas cariocas, o diálogo entre Léo e Bia ultrapassou a barreira do som. E dos ouvidos vizinhos também.

- Seu cachorro! Pilantra!

- Sua vadia! Energúmena!

- Eu sempre soube que não podia confiar em você!

- Você não confia em mim por sua causa, sua barraqueira!

- Minha causa!?

- Sim. Se você me desse a atenção que eu necessito, nada disso teria acontecido.

- Ah, tá bom... Agora só falta você querer que eu ponha a comidinha na sua boquinha, seu malandrão!

Os dois estavam à flor da pele devido ao flagra dado por Bia quando seu namorado Léo se agarrava aos beijos com Paula, a melhor amiga da namorada. E Léo ficou furioso porque Bia, em alta e boa gritaria, escancarou o episódio para quem pudesse (e mesmo se não quisesse) ouvir. Inclusive Bebeto, o namorado de Paula.

- Você é um egoísta machista!

- E você só pode ser uma pessoa assexuada...

- O quê!? Como assim?

- Porque eu te procuro à noite e você sempre vem com a desculpinha da dor de cabeça, dor de dente, dor de ouvido. Você acha que sou de ferro?

- Mas você não me trata com carinho, aliás, nunca me tratou como uma dama. Nunca se importou com o momento, quem dirá com as preliminares.

- Eu não tenho culpa se sou um animal selvagem sempre no cio.

- Tem razão...

- Até que enfim concordou comigo.

- Você realmente é um animal selvagem...

- Ahn?

- Um animal que só consegue olhar à sua volta, que só quer ser chamado de rei, que só caminha numa direção e que só conhece o significado de cruzar, mas não o de fazer amor. Fico com pena de Bebeto, um cara que te considera favoravelmente bem.

- É. O grilo é que sacaneei com ele.

- Sacaneou foi com a Paula, seu cara-de-pau!

- Sua piranha!

- Seu neandertal!

- Harpia!

- Covarde!


Danilo Meiras

Nenhum comentário: