Moinhos

Em transe
Guia os caminhões como se estes fossem aviões
A rota deles não dependem desse nosso herói,
Como? Não sabem que ele é o nosso herói?
Pois sabe agora, ele é!
Para ele o mundo não é só dos cinco sentido, seis sentidos?
Tanto faz, não tem a mínima importância.
Ele transcende,
Grita, pula, bate palma, sorri com a queda dos outros,
Coisa normal,
Toma pinga, dá conselhos para os personagens de novelas.
Sem entender de regras ou leis
Briga por futebol, política,
mulher bonita
e feia, apesar de não distinguir uma da outra(por isso que ele briga)
Briga por causa dos outros conselhos, dados por outros como ele, aos personagens das novelas,
Discorda, enfeza,
Pede a última dose e vai embora
E volta.
É um grande diretor e não aceita essas críticas.
Não percebe, como eu,a crise,
Percebe sim a fome atravessando a rua,
Percebe o banho com poças de água suja,
Percebe as grades invisíveis que separam os mutilados,
Os andarilhos, os que dormem,
os loucos inventados e irremediáveis
que caminham atrás de moinhos(esses eu vejo todos os dias)
jogados nas ruas.
E o diploma que ele não tem, e que não importa.
É o filosofo, professor que falta nas universidades,
É o ator que falta nos teatros
O cantor,
O pintor,
Ele é um filho de Deus
E a todo dia demonstra isso,
É um herói,
Bêbado, tudo bem,
Eu também sou
E crucificado pela ressaca,
Continua com os caminhões como se esses fossem aviões.

Nil Karamázovi