Encontrei Luiz deitado na calçada numa Terça-feira, estava enrolado no cobertor, próximo ao Extra da região hospitalar. Sua idade não sei precisar, o fato é que o tempo em que estava na rua era evidente em seu semblante. Baiano de Eunápolis, provavelmente veio parar na capital mineira em busca de melhores oportunidades na vontade de se constituir como cidadão ou mesmo para recomeçar. O que sei é que veio com os pais e foi parar nas ruas da capital após a morte dos mesmos, sozinho em BH encontrou o consolo nos braços da cachaça e sua perdição também, tornou-se andarilho, mendigo, maltrapilho, ou seja, uma sub especie do nosso sistema capitalista.
Nas andanças de terça-feira tenho encontrado diversos Luizes pelas ruas do hipercentro de BH, são mulheres, crianças, velhos, loucos e até poetas. A presença desses seres incomoda nossa hipócrita sociedade, a PBH tem perseguido essa população. Nessa última Terça encontrei uma jovem, estava grávida e errava pelas ruas próximas ao hospital militar. Seu nome infelizmente não perguntei. Resolvi dar a ela o nome de Maria, assim a relação fica próxima e homenageio nossa santa mãe que também foi perseguida.
Maria me relatou a ação da PBH frente ao incomodo que essa população de rua tem causado aos nobres cidadãos belorizontinos, na noite anterior a PBH passou recolhendo todos os pertences dela e de seu companheiro. Este não concordando com ação, que culminou com a apreensão de suas roupas e cobertores, reagiu contra, no intuito de manter seus parcos pertences e foi preso deixando a Jovem e gravida Maria sozinha carregando em seu ventre mais um fruto do descaso.
A PBH tem realizado periodicamente esse tipo de "higienização", utilizando carros pipas para lavar das ruas essa subespécie, o poder público que deveria cuidar e zelar pelas pessoas, independente da classe ou situação de moradia, desconhece a humanidade desses pobres companheiros de jornadas.
O que consigo apreender dessas tão gratificantes Terças-feiras é o quanto tenho na vida e o quão pouco tenho doado para o bem comum, não falo só de coisas materiais falo também do tempo para escutar um pouco as pessoas, ver e perceber o outro ao meu lado nessa turbulência toda da pós modernidade.
As Terças desacelero o ritmo da minha vida, silencio um pouco minha fala e cedo meus ouvidos para escutar os irmãos em situação de rua e catação, as Terças uma outra BH me foi revelada, as Terças um outro Rafael está sendo formado, revoluciono a minha visão de mundo, me encaro e tenho vergonha. Vergonha de viver em uma região metropolitana tão cheia de contradição, vergonha por me sentir assim impotente.
Rafael Carvalho de Avila Bueno - 19/03/2009
2 comentários:
São vermes e temos que fazer uma faxina.
...pode ser o país do futebol, mas não é com certeza o meu país...
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