Fecho os olhos e me transporto para um lugar que a muito tempo não visito fisicamente fica localizado numa cidadezinha chamada Bela Vista de Minas, lugar que passei muitas férias na minha infância e adolescência. A pequena propriedade do meu avô é cercada por uma pequena chapada e por uma serrinha, a casa fica no vale entre a tal chapada e a serra é um ligar muito bonito, nesse vale corre um pequeno "corguinho" que represado forma uma bela piscina de água e lama.
As lembranças chegam a cada momento que avança essa minha viagem e assim revivo as brincadeiras inventadas, o leite tirado na hora, o galope na égua Rosinha e a companhia sempre fiel do dobermann Bebetão, era um cachorrão negro grande e que metia medo a quem olhava, mas que na verdade era tão criança quanto nós, doce e amável um grande companheiro. Naquele tempo a criatividade surgia a toda hora, tínhamos um espaço imenso para realizar as tão sonhadas aventuras e tínhamos avôs que estimulavam isso, ali naquela pequena chácara adquiríamos superpoderes éramos capazes de voar e controlar cada um de nós as forças da natureza, isso mesmo no melhor estilo capitão planeta, porém tupiniquim e com adaptações com as histórias contadas por nossos avós. Era um mês inteiro vivendo na terra do nunca...éramos todos Peter Pan' s a voar pelo pasto.
A rotina das férias era simples de ser cumprida, acordar bem cedo tomar aquele café da manhã com biscoitinhos de polvilho feitos pela vovó Jandira e elaborar o roteiro da caminhada pelos pastos e matas da região. Lembro que certa vez fizemos uma musiquinha sobre nossa coragem frente a répteis e caçadas sempre imaginárias, "Nós somos os caçadores não temos medo de nada, se aparecer uma cobra nos damos uma paulada". Claro que a primeira providência diante da cobra era correr o máximo que pudesse, sem mesmo nos preocuparmos uns com os outros.
Lembro-me do pé de amora que ficava atrás do galinheiro na beira do brejinho, ficávamos horas a fio trepados naquela arvore de sonhos, pois ela alimentava e servia de brinquedo, a fartura era tenta que as amoras por varias vezes viravam projeteis de uma guerra onde quem saísse mais manchado era obrigado buscar pão na cidade logo de manhã cedo, mas acabava que íamos todos juntos aprontando uma algazarra tremenda.
Recordo de um pacto feito entre os primos sobre um local sagrado, um santuário desses que só as crianças podiam entrar. O santuário ficava localizado no alto da chapadinha, a região do santuário era uma chapada dominada pelo minério de ferro, onde várias vezes avistávamos veadinhos campeiros e teiús. O santuário era na borda da chapada que dava para um gramado incrível onde realizávamos piqueniques. O ponto mais importante do santuário era a pedra dos desejos, um bloco de canga que ficava um pouco mais alto que os demais, de lá daquela pedra poderosa nossos mais íntimos desejos eram pedidos, para isso bastava pegar um fragmento de pedra, pensar o mais forte possível e atirar o seu pedido pedra abaixo, o mais longe que pudesse. Nesse local pedíamos coisas materiais, saúde para nossos familiares, paz para o mundo e uma infinidade de coisas, ali a imaginação e a inocência da criança estavam a plena carga e acreditávamos na fantasia.
Aventuras não faltavam para povoar nossos corpos e almas, caminhávamos algumas horas sob as sobras de eucaliptos, inocentes do que aquelas florestas representavam para o ambiente, e chegávamos ao caulim, um complexo de pequenos tuneis de extração de cal onde lutávamos com monstros ou mesmo nos sujávamos de pó branco para depois de mais um par de horas nos lavarmos na cachoeira.
Hoje já adulto e um pouco corrompido pelas responsabilidades sinto pena de meus primos mais jovens, que não tiveram a oportunidade de brincar na terra do nunca, não conhecerão o caulim, nem nossos pastos encantados onde a bosta da vaca virava munição para uma guerra de esterco, não irão cavalgar na alada Rosinha e nem experimentar o leite quente direto o ubre das vacas, estão presos nas fantasias dos outros, frente ao video game, TV e outros equipamentos que sonham por eles, não terão o medo das histórias do boi fantasma, pois brincam em jogos onde atiram em mortos vivos, não conhecerão o cheiro da terra molhada nem a alegria de nadar num poço de lama.
Saudades de Bela Vista e da chácara, essas são lembranças da criança que a toda hora pede para sair. Como diz a canção "Há um menino a um moleque morando sempre no meu coração".
Rafael Bueno - 18/12/2008

3 comentários:
Todo menino é um rei, eu também já fui rei...
Menino sonha com coisa que a gente cresce e não vê jamais
toda vez que o adulto balança ele vem e me dá a mão...
Viver, viver e ser livre saber dar valor as coisas mais simples...
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