Acabei de formar e a pergunta que tem ocupado minha cabeça é a seguinte, houve mesmo formação? Se houve é realmente essa a formação que esperava? Qual sentido quero dar para os conhecimentos que adquiri durante os quatro anos de curso? Essas são questões que hoje ocupam grande parte do meu dia quando paro para refletir. Nesse tempo de ócio normalmente eu refletia em coisas "inúteis", mas que me deixavam feliz. Coisas como poema, piadas, textos e crônicas que se desenhavam no meu imaginário de criança, buscavam algo agradável para ler, Fernando Sabino, Mario Quintana e o sempre atual Vinicius de Moraes, sonhava com dias inteiros de preguiça ao lado da Naiara, criava estórias de índios para minhas priminhas e inventava sempre um monstro para espantar as pseudos – responsabilidades da vida adulta, pois afinal esse era meu tempo de ócio criativo e se é criativo é feito para brincar, nessas brincadeiras as idéias surgiam, várias vezes temas para a abordagem no TI nasceram assim de brincadeiras no ócio. Mas nesses últimos tempos o meu tempo ta muito "útil", ocupado quase que 24 horas por dia, é monografia é pesquisa para compor o programa de coleta seletiva de Contagem é o pensamento no futuro profissional, coisas importantes. Não tenho conseguido fazer mais o link que fazia entre o real e a fantasia, e de uns tempos para cá a magia não acontece, torna-se mais difícil escrever academicamente e quase impossível brincar com as letras e com o fantástico.
Nas minhas estórias de índio a ligação com a geografia estava sempre presente, pena que nunca escrevi essas estórias contava assim da cabeça inventando situações que a Camila, Renata e Gabriela iam me pedindo, sempre ricas de detalhes geográficos e históricos, houve uma que dei o titulo de "O índio Jupira contra o monstro da transposição", pelo titulo dá para imaginar o que estava por trás da estória. Assim construindo essas estórias com minhas priminhas, ao mesmo tempo vou formando alguma consciência critica nessas crianças de 10 e 9 anos sobre vários temas. Talvez resida aí minha felicidade profissional ser um "Contador de Geografias", ora se existe contador de Estórias, por que não pode existir esse ser quase que mitológico, um ser capaz de relacionar aspectos naturais com humanos, um ser que enxerga conexões entre diversas coisas espalhadas pelo jardim do Grande Arquiteto. O Contador de Geografias não é formado na Universidade, ele é nascido como todo ser mitológico, nasce de mitos em que elementos da natureza, da personalidade, da existência, do sobrenatural se fundem e surge o monstro, o Deus, as ninfas e também os conhecimentos. As via Láctea nasceu de um mito, nosso próprio planeta é sustentado nos ombros pelo poderoso Titan Atlas.
O Contador de Geografias é um ser que pela sua própria criação é dotado de poderes de encantamento, assim como as sereias utilizam a canção para seduzir os desavisados marinheiros, o Contador de Geografias usa dos conhecimentos acadêmicos e populares para promover o encantamento dos alunos, ele mescla a poesia com a tectônica de placas, conheço um Contador de Geografias que brinca com as notas musicais de um violão e produz o tão sonhado encantamento dos sentidos promovendo a aprendizagem, outro desses seres fabulosos usa da arte dramática para abarcar e mostrar com sabor o conhecimento para seus alunos. Certa vez conheci um desses semi-deuses geográficos trabalhando com a enxada, afagando a terra e me mostrando através de suas palavras singelas a maneira humilde de promover o plantio, numa outra oportunidade encontrei um desses Contadores de Geografias que se transmutam em andarinhos a me mostrar os descaminhos da existência humana. Existem ainda Contadores de Geografia que desconhecem que o são, não tem a consciência que dessa sua prática alquimista de transformar a mais simples pedra em conhecimento dourado.
Este Ser Fabuloso tem travado lutas homéricas com os destruidores de sonhos, ele se depara o tempo inteiro com olhares desconfiados de profissionais instrumentistas, transformados em caçadores de recompensas pelo famigerado demônio do Mercado, que constantemente inventa ferramentas para instrumentalizar os conhecimentos e privatizar os saberes, criando nichos de mercado, especializações e atuando como um estripador do conhecimento, carregando na mala pernas, cabeças, braços, olhos, corações e cérebros, aniquilando a unidade do pensamento e promovendo uma burrice coletiva que é testada o tempo inteiro em provas e competições acirradas.
O Contador de Geografias já mais perde a esperança seu pensamento jamais perde a dimensão da utopia, ele sabe que felicidade é bem mais que um cargo e um salário indecente. A felicidade reside nas pequenas coisas, é quando ele descobre que consegue transformar um simples ouvinte em "Escutador" de Sonhos e pescador de desejos. Sua luta é legitima, pois não existe nada mais bonito que um sorriso sincero de gratidão, ele é capaz de reconhecer que sua atuação talvez não promova mudanças radicais no mundo, mas sabe muito bem que as mudanças vão sendo construídas vagarosamente, amorosamente e se sedimentando nos corações de quem já deu o salto para ser Escutador, é quase no tempo geológico lento e sábio. É como edificar uma cordilheira depois de constituída é quase impossível de se derrubar.
Rafael Bueno

5 comentários:
O mundo precisa de mais contadores e escutadores de geografias, estórias, filosofias, sociologias. Hoje o que se vê é uma fábrica de autores e leitores de horrores.
o mundo precisa navegar as vinte mil leguas a bordo do nautilos...explorar o centro da terra...etabelecer contato com o reino das aguas claras...se aventurar na mata com o curupira, brincar com o saci....saber mais de fantasia e mundos fantasticos
...mesmo que seja dificil sonhar, e como é dificl.
o pouco que posso fazer será feito... Por amor, por compromisso e nunca por limitações...
o pouco que posso fazer será feito... Por amor, por compromisso e nunca por limitações...
Postar um comentário