O retrato na parede...

Passei anos incríveis numa chácara encantada, lá nas paragens de Bela Vista de minhas. Casa grande para receber família maior ainda. Umas das coisas que me recordo muito e com saudade era dos retratos antigos de familiares dependurados nas paredes.
Se me recordo bem tinha um do bisa José Modesto de Ávila, que se me lembro bem jurava ser Gerado Bueno até que vovó disse que era o pai dela, tinha também um de Bisa Teresa, um do casal que viveu uma das maiores historias de amor que conheço e vivenciei, Dona Jandira e GEB e tinha um que gostava muito que era de Tio Orlando, Papai e Tia Isabel.
Naquelas paredes viajava para um passado que carrego no meu DNA e por muitas vezes tentei imaginar como seria a vida daqueles personagens amarelados pelo tempo, em fragmentos fotográficos eu conhecia parte do que eu seria o inicio da minha historia de vida, alguns galhos verdes da arvore de minha vida. Outro fato interessante era como as pessoas se produziam para as fotos, todos muito bem alinhados e vendo aqueles retratos quase que pinturas rola uma nostalgia de um tempo em que não vivi, um tempo em que acelerar era no máximo descer uma pirambeira a galope.   
De certa forma a chácara era um refúgio, santuário sagrado, onde vajamos, onde surgia os defensores da natureza. Ali naquele pedaço de sonho compúnhamos músicas, encenávamos autos de natal, escutávamos trêmulos causos de assombração, aparições de boi fantasma e mulher que crescia sem medida. Aquele espaço todo era de aprendizado, sabíamos como o feijão nascia, como a vaca dava leite e como esse leite se transmutava em queijo, tinha galinheiro e ovos que viravam bolos e quitutes, tinha cavalo e sobre tudo tinha amor, muito amor mesmo. 
Nunca sentimos tristeza, sempre tinha um cão esperto e leal, sempre tinha biscoito de polvilho assado no forno a lenha. Gostava das laranjas e mexericas e sobretudo de nadar no poço de peixe e deixar a roupa toda manchada de lama vermelha.
Guerreávamos e nossa munição alem da imaginação eram as amoras e as vezes o próprio estrume do gado, recordo agora de uma vez que meu pai nos ensinou a arremessar fruta de lobo com uma vareta, era tão impressionante e a pequena frutinha ia longe...longe. Longe mesmo foi meus pensamentos e foi tão longe que agora Dona Jandira e Geraldo Bueno quase podem me abraçar e sinto o cheiro daquela casa, e escuto os carros passando lá na BR, ouço Jair "aboiando" e Tolosi, Hulk, Nero, Lessi e Bebetão latindo ao longe, percorro cada trilha, pulo cada cerca, mergulho e ralo mais uma vez minha barriga na piscina de cimento e as lagrimas escorrem e meu coração carrega isso tudo e ele carrega todos vocês e estamos todos lá reunidos na grande festa no fabuloso "árraia" que sempre foi e é nossa família.

Rafa Bueno - Contando as Geografias de certo lugar mágico da minha infância. 26/07/2013

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