Saudades das horas vagas

Ela me asfixiou com a sua mania de querer tudo no lugar certinho e padronizado. Dia após dia era a mesma coisa um ciclo interminável de repetições. Não me recordo do nosso primeiro encontro, sua mania de ser mais do mesmo apagou minhas mais doces lembranças das irresponsabilidades do passado. Talvez ela me foi apresentada quando comecei a entender o que era a escola, com suas regras e conhecimentos fragmentados, mas naquela época pouca bola dei para ela, gostava mesmo é de vagar nos interstícios da minha dificuldade de concentração em sala. Uma ou outra vez ela me incomodava e me despertava dessa viagem insólita pela mente infantil. Penso que naqueles dias eu era mais forte, a dita cuja lutava para me trazer de volta dos meus transes.

Com o passar dos anos, ela que é a paciência levada ao extremo, foi me cooptando. Incorporei hábitos e padrões, mas ainda sim conseguia fugir do seu olhar inquisidor e responsável. Chego ao mundo do trabalho e ali ela é a manda chuva durante muito tempo lutei de certa forma mas me adaptei a Rotina enfim havia me envolvido. O esquema era duro Trabalho – Universidade – Casa, o tempo para vagar naqueles doces abismos da criatividade ociosa foi reduzido e aos poucos fui sendo engolido pela Rotina e hoje luto para escapar por breves momentos do seu ar comum, buscando nas palavras, músicas e paisagens a lembrança da criança inventiva e feliz que fui e em alguns momentos aflora novamente.

Rafael Bueno - Contando as geografias da minha lembrança - 12-08-2010

Nenhum comentário: