Acabou?

Era a grande final do campeonato municipal de Abre Campo. O alto falante era ouvido por toda a cidade... Os fogos faziam tremer as paredes da sala, dificil seria perder um jogão desses, mesmo não conhecendo nada da cidade. A chuva caía como ingrediente fundamental para aumentar o nível de tensão...

O jogo entre Lavras e Rosário prometia. Cada time representando o seu bairro.... O primeiro campeonato que o lavras disputa e já está na final... Contra o Rosário, concorrente tradicional nos bailes de carnaval da cidade... Ingressos a 2 reais, público de 567 pagantes, renda de 1134 reais, anunciava o alto falante...

O jogo começa e o time do bairro do Rosário avança, é parado com faltas duras. Perde a bola, sofre com os contra-ataques do time do Lavras, e tambem tem que parar as jogadas com faltas, e faltas duras... “Vamo dar sangue que isso vale dinheiro” gritava um torcedor do Lavras.

O juiz, com uma barriguinha peculiar vai distribuindo cartões... Os supapos comendo soltos e o juiz distribuindo cartões... De repente, em uma disputa na meia canxa sobram cotovelos, empurrões e todos os tipos de catiripapos...

O juiz chama dois dos valentes, um de cada time como manda o figurino, e vai caminhando com os dois para a lateral do campo, e continua caminhando, até que já bem próximo da proteção policial distribui os cartões vermelhos.

E começou a correria, “ele não fez nada”, “esse juiz ta querendo aparecer”, “em Rio Casca só tem juiz ladrão, e mandam eles pra cria confusão aqui”.

O jogo equilibrou, o bairro de Lavras conseguia ter mais posse de bola, “passaram a manta no Rusário”, “expulsou um perna de pau de um time e o craque do nosso”, reclamava o torcedor do Rosário.

No intervalo o destaque da partida, um canino insaciável por diversão adentra o gramado e começa a correr destrambelhado, só não correu mais do que o massagista, e brincou com as crianças, brincou com o juiz, foi o bobinho em um bate bola dos jogadores, e quando já estava tudo pronto para recomeçar a partida o narrador avisa pelo alto falante, “e o cachorro? Vai jogar pra qual time?”.

O juiz ignora, reinicia o jogo, o cachorro ainda dá umas corridas na direção de bola, mas parece que ninguém mais quer brincar... Então ele caminha lentamente para fora do gramado, saindo aplaudido pelas torcidas dos dois bairros.

A pancadaria continua e o Lavras com o jogo equilibrado sai na frente, explosão da torcida em maior numero e que via o inacreditável acontecer, o Lavras vencia e se aproximava do titulo.

A pressão do Rosário seguiu até o final da partida, as faltas diminuíram, o goleiro do lavras ia fazendo defesas fáceis, porem plásticas, estava ganhando um brinde oferecido pela farmácia como o melhor em campo, o herói. “Vou ter que pagar uma cerveja pra esse goleiro”...

Quando o jogo já estava para terminar, eis que o inesperado acontece. Gol do Rosário? Frango do goleiro? Nada disso os três forasteiros descobrem que ainda é o primeiro jogo e a final somente semana que vem.


Paulo César Garro

Terças nem sempre insanas... depois do futebol...

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