Causos da MPB – os pêsames de Caetano


Torquato Neto foi contemporâneo de Gil, Caetano, Gal, Bethânia e Capinan. Deste, tinha ódio e, inclusive, escreveu uma famosa carta a Hélio Oiticica sobre o desafeto. Porém, nada os impedia de lançar ao mundo o Tropicalismo.

Torquato morreu jovem, angustiado pelos rumos que o Brasil tomara. Não só políticos (tais quais as ditaduras) mas, principalmente, culturais. Era um piauiense arretado – nascido em Teresina, lapidado em Salvador e crítico no Rio de Janeiro. Um dia após seu aniversário de 28 anos, Torquato Pereira de Araújo Neto, depois de voltar de uma festa, tranca-se no banheiro e abre o gás. Sua mulher, Ana Maria, dormia em outro aposento da casa, sendo que o suicídio só foi descoberto no outro dia pela manhã, e pela empregada.

Sua nota suicida dizia: “Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudem demais o Thiago, que ele pode acordar”. Thiago era o filho de dois anos.

Alguns dias após o enterro, Caetano Veloso foi visitar o pai de Torquato em Teresina a fim de dar os pêsames à família do poeta. O patriarca da família, bastante triste e mudo, recebeu o cantor. Pediu pra preparar uma cajuína (bebida típica do Piauí) para eles e, na hora de Caetano sair, entregou-lhe, com lágrimas nos olhos, uma rosa e disse:

- A que se destina a nossa existência?


Caetano só poderia homenageá-lo.


Cajuína
Caetano Veloso
Existirmos a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina
Danilo Meiras

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