No inicio dos anos 90 lá estava eu envolto com minhas bolinhas de gude e papagaios. Não tinha tantas preocupações e nem responsabilidades e a vida bom, essa era uma brincadeira, sem o peso das responsabilidades era fácil suportar a inflação, as mudanças de planos econômicos e as crises.
Gostava de futebol, mineirão lotado e o Cruzeiro em campo. Ir ao gigante da Pampulha era uma das coisas que mais gostava, a família se mobilizava aos domingos e partíamos dentro do velho opala rumo ao mundo mágico das arquibancadas. Acompanhei diversos títulos do clube do coração dentro do grande estádio. Campeonatos Mineiros, Super Copas, Copas do Brasil, Libertadores, vi derrotas também e nunca comemorei um mundial.
Lá estava eu na década de 90 uma bomba na escola por opção e assim uma nova chance, mais uma vez a quinta serie só que agora do SESI. Bons tempos vividos ali no Alvimar Carneiro de Rezende, de lá guardo lembranças, momentos incríveis na biblioteca dialogando com José de Alencar, Machado de Assis (esse não rolava um papo legal não) Mario Quintana e o sempre inspirador Julio Verne, alias o francês teria um papel predominante na minha imaginação. Convivi quatro anos na mesma turma alguns amigos, dos quais não tenho sido presente e muita historia para contar e para inventar também.
Naquele tempo as férias eram mais longas. A rua, a quadra e as noites mais simples, sem essa complicação da violência. Piques diversos, estreando o novo toco, mamãe da rua, um toque, açougue, tantas brincadeiras e muito tempo para desfrutar. Tinha a quadra ponto de encontro para as peladas, truquinho ou simplesmente aquele velho e bom bate papo. Sempre rolava um “hoje não”, um ligar capanga, brigas eram comuns e até divertidas, as rivalidades ficavam nos socos e ponta pés, nada de tiros e mortes. Eu e meus primos tínhamos um refugio mágico, Sitio da Chácara em Bela Vista de Minas, cavalos, ordenha pela manhã cedo??? Lá não, vaca lá seguia era o horário dos Buenos e lá pelas 10 da manhã é que se tirava o leite. Queijo, coalhada e iogurte produzidos ali mesmo pela Vovó. Biscoitos de polvilho assados no forno a lenha e o feijão colhido ali no roçado próximo a casa, três águas – dizia Geraldo Bueno - bastam para comer esse feijão: a primeira quando planta, a segunda quando floresce e a terceira para cozinhar.
Primeiras lições práticas de geografia, que não se ensinam nas academias, aprendi ali naquela grota, tinha um vale, um córrego, serras e uma chapada. Essa última virou uma espécie de santuário, todos os dias subíamos pela vertente rumo a chapada, de lá avistávamos a cidade fundada por nossos antecedentes e cujo primeiro prefeito eleito foi nosso avô e de certa forma nos sentíamos donos daquelas paragens. Caminhávamos muito pelas trilhas, no meio dos eucaliptos e chegávamos num complexo de túneis de onde se extraia uma espécie de cal, o lugar era chamado de Caulin, explorávamos alguns túneis e voltávamos para casa completamente sujos, mas de alma lavada pela diversão.
Conheci a Serra do Cipó nessa época também, era uma serra mais selvagem e sem tanta exploração comercial, especulação imobiliária essas coisas que causa asco em quem gosta de coisas mais simples. Acampamos ali, foi meu primeiro acampamento, cerca de 20 pessoas da mesma família fazendo a maior zona no clube da ACM (Véu da Noiva). Pela manhã bem cedo um mergulho nas águas geladas do Espinhaço e depois uma peladinha no campo, churras e caminhadas pela trilha dos escravos. Foi ali que arrisquei umas primeiras linhas, hoje perdidas, mas vivas na lembrança dos momentos gravados no coração.
Rafael Bueno 11/06/2009
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