QUEM falou de primavera
sem ter visto o teu sorriso,
falou sem saber o que era.
De dia e de noite,
meu sonho combate:
vêem sombras, vão sombras,
não há quem o mate!
Coitado de quem pôs sua esperança
nas praias do mundo...
- Os ares fogem, viram-se águas,
mesmo as pedras, com o tempo, mudam.
A cantiga que eu cantava,
por ser cantada morreu.
Nunca hei de dizer o nome
daquilo que há de ser meu.
As coisas acontecidas,
mesmo longe, ficam perto
para sempre e em muitas vidas:
Aprendi comigo.
Por isso, te digo,
minha vida bela,
nada mais adianta,
si não há janela
para a voz que canta...
Vou pelo braço da noite,
levando tudo que é meu:
-- a dor que os homens me deram,
e a canção que Deus me deu.
Calado, Calado, perderam meus dias?
ou gastei-os todos, só por distração?
Não sou dos que levam: sou coisa levada...
E nem sei daqueles que me levarão...
mas quem falou dos desertos
em nunca ver os meus olhos...
-- falou, mas não estava certo.
E é nisto que se resume
o sofrimento:
cai a flor, -- e deixa o perfume
no vento!
Trechos retirados do livro viagem, de cecília meirelles...
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